ATUALIZAÇÃO SOBRE DELIRIUM EM IDOSOS: REVISÃO DE LITERATURA
Resumo
Introdução
Nomeado por estado confusional agudo, o delirium consiste no rebaixamento do nível de consciência, sobretudo, daqueles pacientes que estejam debilitados e/ou sejam idosos, isto é, com mais de 65 anos de idade(1). As principais marcas dessa condição são: início abrupto, alteração do nível de consciência, distúrbios da função cognitiva (memória, orientação, linguagem) e seu curso flutuante ao longo do dia(2), de modo que até 80% dos pacientes internados em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) chegam a ser acometidos por delirium, principalmente, idosos que sofram de alguma disfunção cerebral e que tenham sido afetados por alguma infecção aguda, tido seus medicamentos trocados recentemente e/ou passado por alguma cirurgia(3). Nas enfermarias, sua prevalência costuma ser da ordem de 11 a 42%( 4 ) e, entre suas principais complicações, encontram-se o aumento da mortalidade, o risco de prejuízo cognitivo a longo prazo e a ampliação do tempo de internação(5).
Devido à elevada incidência do delirium e às suas complicações, visa-se, com esse trabalho, descrever as principais causas, manifestações clínicas, possíveis complicações e tratamentos da situação abordada.
Palavras-chave: Delirium; Encefalopatia; Estado Confusional Agudo; Idosos.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa acerca do delirium em idosos, transpassando pelas principais causas, manifestações clínicas, complicações e tratamentos do quadro. Como fontes de dados, foi pesquisado o termo “Delirium” nas bases Scientic Eletronic Library Online (SciELO) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). Foram selecionados artigos que tivessem sido publicados de 2010 a 2020, após a leitura dos resumos de cada um deles, tendo-se como foco o tema aqui discutido. Os artigos que, dentre os mostrados a partir da busca pelo descritor “Delirium”, não foram publicados durante o período definido e que fugiram ao tema foram excluídos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De gênese multifatorial, o delirium - que pode afetar pacientes de qualquer idade (6) – é mais comum nos pacientes geriátricos e, mais ainda, naqueles que tenham algum componente de predisposição em si, como a demência, que é o fator mais relevante nesse contexto de propensão(7), e corresponde, na maioria das vezes, a uma encefalopatia(8) oriunda de alterações metabólicas e/ou causas orgânicas subjacentes. Esse mal funcionamento encefálico, o qual serve, por outro lado, como um fator independente que coopera para com o desenvolvimento da demência(9) pode se tornar grave e até mesmo fatal(10) se não reconhecido e tratado precisamente e tem por base um processo neuroinflamatório, que é um tipo de resposta a uma situação de estresse vivenciada pelo organismo, por desequilíbrio dos neurotransmissores e/ou por alterações próprias da rede neuronal(11).
Entre tantos outros fatores ligados ao surgimento da síndrome que marca o delirium, pode-se ressaltar desnutrição, sepse, desidratação(12), além da glibenclamida, digoxina (doses > 125g/dia), nifedipina, benzodiazepínicos de longa ação, antipsicóticos, como a risperidona e a amitriptilina, e o ácido acetilsalicílico(13). Hipoxemia, má-perfusão cerebral, idade igual ou superior a 70 anos, distúrbios hidroeletrolíticos, imunossupressão por HIV e isolamento social, a título de exemplo, são outras causas diretas do delirium(14). Não se pode esquecer, ainda, que acidente vascular encefálico (isquêmico ou hemorrágico), infecções que acometam o sistema nervoso central e doenças psiquiátricas podem originar episódios de estado confusional agudo(15).
Em ambiente hospitalar, é comum que os profissionais da saúde detectem o delirium por causa da agitação (delirium hiperativo) ou da depressão do paciente (delírio hipoativo), este último que costuma ser mais grave e fatal que o primeiro(16). Quanto ao hiperativo, contudo, é importante que haja um diagnóstico diferencial, em pacientes internados, principalmente em UTI, com dor moderada ou intensa, incômodo pela ventilação mecânica e, até mesmo, abstinência do tabaco(17). No geral, sinais que devem chamar a atenção para uma possível existência de delirium no idoso são desatenção, pensamento desorganizado ou confuso, flutuações no nível de consciência, alucinações e/ou delírios, os quais costumam flutuar no decorrer do dia(18).
Se não for prontamente diagnosticado e tratado, o delirium pode fazer com que a alteração orgânica a ele subjacente tenha pior prognóstico e levar ao aumento da morbimortalidade, com maiores tempo e gasto com a internação. O risco de incapacidade física e mental associado ao delirium que surge após a internação de pacientes geriátricos é outra possível complicação, juntamente com o desgaste emocional que pode afetar o paciente(19). Por fim, é válido salientar que o aumento do tempo de internação maximiza o risco de o idoso ser acometido por alguma infecção nosocomial e a imobilidade pode ocasionar úlceras de pressão(20).
Não há um tratamento direcionado para o delirium, mas algumas medidas preventivas podem ser colocadas em prática(21), a citar: melhora do sono do paciente, tratar uma possível algia de maneira acertada, reduzir o uso de fármacos à menor quantia possível( 2 2 ) , evitar quedas, estimular a deambulação, a ingesta de líquidos e o convívio social, além de tratar infecções(23).
CONCLUSÃO
Uma vez conhecidas as causas e possíveis complicações do delirium em idosos, saber reconhecê-lo e tratá-lo adequadamente e o mais rápido possível é necessário, a fim de aumentar a qualidade de vida deles. Ademais, é importante o conhecimento acerca desse tema não só por parte dos profissionais da saúde, mas, também, por parte dos familiares e cuidadores, visto que poderão procurar auxílio rapidamente quando for preciso e saberão que cuidados estabelecer, a fim de evitar o aparecimento dessa síndrome que afeta tanto os pacientes geriátricos.
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