CARACTERIZAÇÃO DA INFECÇÃO PELO CITOMEGALOVÍRUS E O DESENVOLVIMENTO DA IMUNOSSENESCÊNCIA

Autores

  • Isabela Macêdo de Araujo
  • Caroline Magalhães Tenório Rocha Rocha Sobrinho
  • Marcos Reis Gonçalves
  • Cristiane Monteiro da Cruz

Resumo

Introdução: O envelhecimento é marcado por uma alteração na homeostase do organismo com alterações nas respostas imunes inata e adaptativa em um processo conhecido como imunossenescência [1,2]. Esta resulta da associação entre fatores ambientais e exposição a antígenos ao longo da vida [3], dentre os quais destaca-se a infecção pelo citomegalovírus, um β- herpesvírus da família herpesviridae, que afeta grande parte da população mundial e pode perdurar durante toda a vida do hospedeiro [1,4]. Tais alterações são mais significativas na imunidade adaptativa, com destaque para as células TCD8, uma vez que há a diminuição das células T “naïve” e um aumento de células T de memória altamente diferenciadas [5,6,7], caracterizando o paradigma da "inflação de memória" [8,9,10]. Nessa perspectiva, os idosos apresentam uma redução na defesa contra novos agentes infecciosos, bem como uma fraca resposta à vacinação, o que afeta consideravelmente a qualidade de vida dessa população [1,11,12]. Dessa forma, objetiva-se analisar a relação existente entre o envelhecimento do sistema imune e a infecção pelo citomegalovírus. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, realizada na base de dados Medline (via PubMed). Utilizou-se os descritores (MeSH) e termos livres, por meio da estratégia de busca: "immunosenescence OR aging AND cytomegalovirus". Por fim, aplicou-se o filtro de artigos publicados nos últimos cinco anos, sem mais restrições quanto ao tipo de estudo ou idioma. Com relação aos critérios de elegibilidade, foram incluídos artigos que abordam a relação entre a infecção pelo citomegalovírus e o desenvolvimento da imunossenescência. Dentre os critérios de exclusão, tem-se os artigos que ou não abordaram o envelhecimento como tema principal ou correlacionaram o citomegalovírus com doenças específicas, os que possuem foco na prática de exercícios físicos e em aspectos genéticos, além de estudos estritamente qualitativos. Resultados e Discussão: A partir da utilização do filtro, foram encontrados 270 artigos, dos quais 34 títulos mostraram-se relevantes, 17 foram excluídos após a leitura dos resumos e dois retirados após a leitura do texto completo. Por fim, 15 artigos foram selecionados para compor a revisão. O citomegalovírus possui a capacidade de escapar da resposta imunológica do organismo, a partir de estratégias que impossibilitam a apresentação de antígenos pelo complexo de histocompatibilidade de classes I e II, permitindo sua disseminação e a capacidade de permanecer latente durante toda a vida [1,13]. Dessa forma, a expansão oligoclonal das células TCD8 específicas para o citomegalovírus diminui o espaço para gerar respostas a novos antígenos, aumentando as taxas de morbimortalidade dos idosos [11,14]. Ademais, a soropositividade para o vírus em questão também provoca uma diminuição significativa no número de células T reguladoras, o que aumenta o risco de produção de autoanticorpos e, consequentemente, da autoimunidade [5]. Vale ressaltar que a infecção pelo citomegalovírus humano faz parte dos parâmetros do "perfil de risco imune", juntamente com a inversão da proporção do número de células TCD4/TCD8, redução de células T “naïve” e o aumento de células de memória [9,12,15]. Conclusão: A imunossenescência consiste em alterações no funcionamento inato e adaptativo do sistema imune. Ela pode ser influenciada por processos fisiológicos normais, como a involução do timo e a redução da função da medula óssea, bem como por fatores externos, como a infecção crônica causada pelo citomegalovírus. Dessa forma, nota-se que este possui a capacidade de modular a função e o caráter imunológico durante o envelhecimento normal.

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Publicado

2021-04-07

Edição

Seção

Artigos