ANÁLISE DA MORBIMORTALIDADE DE PACIENTES IDOSOS ACOMETIDOS PELA DENGUE NO BRASIL
Resumo
Introdução: É fundamental compreender as dificuldades que impedem uma maior longevidade para a população idosa do Brasil, representada pelos indivíduos na faixa etária acima dos 60 anos de idade, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nesse contexto, faz-se necessário pontuar a Dengue, quando agravada, como sendo um dos possíveis fatores impeditivos para a maior longevidade, devido a sua alta taxa de morbidade e mortalidade na população brasileira e a sua caracterização como sendo uma doença endêmica no país. Tal enfermidade é definida como uma arbovirose, em virtude de ser causada pelos chamados arbovírus. Atualmente, o arbovírus da Dengue possui quatro sorotipos virais e seu nível de gravidade está relacionado com o aumento da circulação desses diferentes sorotipos em áreas que tenham uma densidade populacional muito alta. Sua transmissibilidade ocorre, principalmente, pela fêmea do mosquito Aedes Aegypti, que se reproduz por meio da deposição de ovos em recipientes com acúmulo de água e garante a infecção após a picada ao hospedeiro e a inoculação do vírus que se distribui pelo organismo. Ao afetar o idoso, que já possui mudanças fisiopatológicas notáveis, como alterações na imunidade, pode-se inferir que essa infecção o torna mais suscetível as complicações causadas pela doença, uma vez que os números de óbitos são relevantes no cenário atual1. Dessa forma, salienta-se a necessidade de garantir um melhora no atendimento à população idosa acometida pela patologia e um maior empenho no combate ao alastramento dessa infecção viral nos estados e municípios do país. Assim, objetivou-se com este estudo analisar e descrever a situação da morbimortalidade da população idosa acometida pela Dengue no Brasil, no período de 2014 a 2017, com base nos casos notificados da doença, provenientes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), com enfoque nas variáveis faixa etária e evolução clínica do caso, especialmente, para os pacientes com idade superior aos 60 anos.
Metodologia: Estudo caracterizado como descritivo, com abordagem quantitativa e natureza transversal. O local da pesquisa consistiu no banco de dados do SINAN (SINAN-NET), disponibilizados gratuitamente na plataforma DATASUS. Esses dados podem ser definidos como sendo secundários, de domínio público, não necessitando do parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). No total, foram pesquisados todos os indivíduos diagnosticados e notificados com Dengue no período estipulado. Nenhum caso confirmado foi excluído, mesmo em casos de subnotificação, como em fichas com a ausência de informações. Para a análise, foram utilizados porcentagens e recursos da estatística descritiva, por meio do programa BioEstat 5.3, como frequência absoluta, frequência relativa, média e mediana. A tabulação dos dados se deu mediante ao Software Excel®.
Resultados e Discussão: Durante o período estudado, foram notificados 4.047.883 casos de Dengue no Brasil, destes, 2.580.781 (63,76%), acometeram a população adulta, de 20 a 59 anos, seguido pela população de crianças e adolescentes, de 0 até os 19 anos, com 1.025.454 (25,33%) casos. A população idosa representou 423.873 (10,47%) dos casos do país e ainda houveram 17.775 (0,44%) notificações com a resposta da faixa etária em branco. Primeiramente, pontua-se que esse resultado deve-se ao fato de que o maior número de casos, que ocorre na população adulta, é em virtude dessa faixa etária englobar grande parte da População Economicamente Ativa do país, representando a necessidade de maior exposição desses indivíduos aos centros urbanos e, consequentemente, uma maior propensão à infecção pelo vírus, além de ser a faixa etária com o maior quantitativo populacional do país2,3. Em seguida, pode-se fazer a observação de que as respostas em branco, de certa forma, caracterizam a subnotificação da doença e prejudicam a vigilância epidemiológica e a tomada de decisão perante a criação de estratégias de combate ao vírus4. Quando parte-se para a análise específica da mortalidade da Dengue, verifica-se que entre as faixas etárias preenchidas corretamente no momento da notificação, a mediana da idade dos pacientes que evoluíram a óbito pelo agravo notificado indicou a faixa de 60-64 anos como maior vítima de falecimento pela doença. Resultado esse similar a outro estudo realizado no Ceará em 2017, que apresentou mediana de 56 anos5. Nesse aspecto, o quantitativo de óbitos pela doença, em todos os brasileiros notificados, representa o número de 2.416 casos, entretanto, 12 (0,5%) não tiveram a faixa etária determinada na ficha de notificação. Dos 2.404 casos de óbitos preenchidos corretamente na população, o número de falecimentos na população idosa representou quase a metade desse quantitativo, atingindo a marca de 1.077 (44,8%) mortes. Esse resultado entra em consonância com um estudo realizado na região Sul do Brasil, de 2001 a 2017, que teve como desfecho entre as mortes pela Dengue, o percentual de 42 representando os óbitos em pacientes acima de 60 anos, dentre todos os analisados6. Não se pode afirmar a causa exata desse quantitativo de óbitos em idosos devido à ausência de outras variáveis disponibilizadas pelo SINAN, entretanto, estudos apontam que um dos fatores de maior relevância para esse resultado, além das alterações deletérias que ocorrem no sistema imune desses indivíduos, é a maior frequência de comorbidades. Principalmente, Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes como sendo as doenças mais frequentes nessa população e em pacientes idosos com arboviroses que apresentam agravo em seus casos, sendo essas patologias, fatores determinantes de gravidade da dengue em pacientes acima de 75 anos5,7. Tal situação entra em concordância com o que foi verificado neste estudo quando é ilustrado o número de óbitos por grupo etário entre os idosos. Entre os 423.873 senis acometidos, 312.515 (73,73%) tiveram a evolução clínica de seu caso corretamente notificada, dentre os quais, 1.577 foram a óbito, em que desses, 1.077 (68,30%) faleceram pelo agravo notificado, seguido daqueles que faleceram por outra causa (18,52%;292) e os com o óbito em investigação (13,18%;208). Nas três classificações de óbitos, os idosos acima de 70 anos foram as maiores vítimas, reiterando que a maior frequência de comorbidades nessa faixa de idade, não só agrava o quadro do paciente acometido pela dengue, como também, ilustra uma maior debilidade no combate a complicações de variadas doenças, representando uma maior propensão ao fim da vida.
Conclusão: Nota-se com esse estudo, a partir da análise dos dados disponibilizados pelo SINAN, que nas notificações de Dengue voltadas para a população idosa, os resultados apresentados podem ser considerados relevantes quando comparados à população em geral, indicando uma maior propensão desse grupo seleto de brasileiros a complicações em seus quadros de saúde, advindas dessa infecção viral especificamente. As razões fisiopatológicas claras para tal fato ainda precisam ser estudadas e pesquisadas com maior afinco, porém, como citado, foi encontrado na literatura correlações com as mudanças na imunidade do paciente idoso, que se torna mais fragilizada com o passar dos anos, tal como a maior frequência de comorbidades nessa fase da vida. Assim, conclui-se que é de fundamental importância mobilizar a comunidade no combate à propagação do vírus, por meio das medidas profiláticas, haja vista que, por mais que seu tratamento seja, na maioria das vezes, eficaz, a Dengue não deixou de ser uma das doenças mais prevalentes e uma das ameaças à longevidade dos idosos no território brasileiro. Além disso, faz-se necessário reforçar o discurso de que a subnotificação prejudica não só a população senil do país contra a disseminação da doença, mas a sociedade de um modo geral. Portanto, é preciso que essa mobilização comunitária garanta uma maior proteção aos idosos, bem como é importante haver um maior treinamento aos profissionais da saúde para que possam notificar corretamente os dados coletados, visto que os variados fatores deixados em branco podem resultar em problemas graves para o investimento de verba pública, e, consequentemente, ocasionarem um descontrole na incidência de casos e de óbitos.
Referências
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