AVALIAÇÃO DE ÓBITOS E INTERNAÇÕES POR DENGUE EM IDOSOS NO ESTADO DE GOIÁS NO ANO DE 2017
Resumo
INTRODUÇÃO: A dengue é uma arbovirose transmitida pelo Aedes aegypti, sendo uma doença de grande incidência no Brasil e de alto impacto na saúde pública. Condições ambientais, demográficas, sociais e de infraestrutura aumentam a vulnerabilidade e o risco de sua ocorrência na população (1). A população idosa, a qual convive com o maior número de comorbidades, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, doença renal crônica, entre outras, tende a apresentar, como consequência, uma evolução mais desfavorável ao contrair a dengue, e necessita de maiores cuidados. Assim, é imprescindível o reconhecimento desta vulnerabilidade, especialmente no sentido de ampliar a capacidade de predição de fatores de risco e de diagnóstico precoce da doença, tal como na efetividade do combate ao vetor (2). O objetivo do estudo é analisar o número de internações e óbitos por dengue na população acima de 60 anos no estado de Goiás no ano de 2017, a fim de correlacionar com os fatores de risco e possíveis medidas de controle da doença.
METODOLOGIA: É um estudo descritivo transversal, em que foram coletados dados sobre o número de casos notificados, assim como número de hospitalizações e óbitos devido a dengue na população acima de 60 anos no estado de Goiás. Os dados foram obtidos por meio do Sistema de Internações Hospitalares (SIH-SUS) e Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN- NET).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Durante o ano de 2017 foram observados em Goiás 63.494 casos de dengue na população geral, com 3.008 hospitalizações e 54 evoluções para óbito. Quando avaliado na população acima de 60 anos, observaram-se 5.465 caos, com 474 hospitalizações e 22 evoluções com óbito, mostrando o quanto à população idosa possui uma vulnerabilidade maior às complicações da dengue, com maior morbimortalidade (3). Os idosos apresentam risco de morte por dengue até 12 vezes maior do que a população geral brasileira (4). Isso se deve a maior prevalência de doenças crônicas associadas e uso contínuo de medicações como antiagregantes plaquetários, anticoagulantes, antiinflamatórios e imunossupressores, que predispõem a uma evolução clínica desfavorável, com maior incidência de dengue grave e choque, necessitando de um tempo maior de internação (5). O reconhecimento precoce de sinais de gravidade, como dor abdominal contínua, vômitos persistentes, palidez de extremidades, alterações do sensório, boca seca e hipotensão, faz-se necessário para tratamento de suporte adequado. Dessa forma, amplo acesso a unidades de saúde é importante não apenas para diagnóstico e avaliação de conduta, mas também para orientações quanto aos sinais de alerta e possíveis complicações em pacientes tratados de forma ambulatorial (6).
Além disso, é possível identificar fatores socioeconômicos e demográficos que predispõem surtos de dengue, o que torna possível intervenção na redução de casos na população idosa a partir de medidas de saneamento, como desobstrução de escoamentos de água, regularidade de abastecimento de água, coleta adequada de resíduos e legislação sobre o meio ambiente e saúde. O Aedes aegypti exibe um comportamento sinantrópico e antropofílico, beneficiando-se de condições ecológicas criadas pelo próprio homem para poder se instalar em um determinado ambiente. O tipo mais comum de criadouros são os locais de depósito removíveis como plásticos, sucatas, latas, entulhos, ferro-velho e pneus, sendo a eliminação de tais criadouros a maneira mais eficaz de impedi de controle do vetor. Dessa maneira, é necessário contar com a participação ativa da população, que em sua grande parte possui esses reservatórios em suas casas mesmo com a disponibilidade de coleta de lixo (7). Fatores sociais como a falta de acesso à informação por parte da população carente sobre a transmissão de dengue foram apontados como uma causa social das epidemias, levando ao acúmulo de água parada e lixo em quintais, beiras de córregos e rios, com a subsequente proliferação do mosquito e aumento na disseminação da doença.
CONCLUSÃO: Tendo em vista o difícil controle da dengue e o maior risco de formas graves na população idosa, medidas educativas podem fortalecer a consciência individual e coletiva, visando estabelecer redução do número de casos, maior qualidade de vida e redução de internações. Urge a necessidade de se estabelecer medidas que possam prevenir a ocorrência da doença nessa faixa etária, como maior fiscalização de domicílios, aplicação de multas elevadas para caso de os agentes comunitários da saúde encontrem larvas de A. aegypti em residências. Além disso, faz-se preciso a mobilização dos profissionais atuantes na atenção primária para realizar educação em saúde não somente por meio de palestras sobre o combate à dengue, mas também em consultas individuais e em visitas domiciliares de cada família em sua microárea, dando destaque para os idosos.
Referências
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