BIG DATA E O FIM DO LIVRE ARBÍTRIO: A DEMOCRACIA MANIPULADA

Autores

  • Sylvio Augusto de Mattos Cruz Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.21576/pa.2021v19i3.2536

Palavras-chave:

Big Data. Democracia. Capitalismo de Vigilância. Tecnologias Persuasivas.

Resumo

Este artigo tem por objetivo compreender o uso do Big Data não apenas como instrumento de monitoramento do comportamento dos indivíduos, mas também como uma poderosa forma de se estabelecer um controle piscopolítico mediante o uso de tecnologias persuasivas. A quimera de que as ferramentas digitais empoderariam os cidadãos no palco democrático têm sido substituídos por um feudalismo digital dominado por interesses mercadológicos de um capitalismo de vigilância, que mediante a extração e análise de dados dos indivíduos, estabelece uma nova configuração de poder mediante a monitoração, personalização e customização das interações individuais. Os algoritmos têm se tornado cada vez mais imprescindíveis e, em simultâneo, têm a sua capacidade de influenciação e manipulação de seus consumidores aumentadas. O aprendizado de máquina viabiliza uma mineração descomunal de dados na busca de correlações e inferência que extrapolam o limite da capacidade humana. Os saberes produzidos por essas inferências estão esvaziados de qualquer senso ético. Infelizmente os desdobramentos decisórios tomados a partir desses processos terão um efeito corrosivo da esfera pública. Os detentores dos algorítmicos tendem a colonizar o espaço público com os seus interesses privados, mediante a interposição de filtros que são favoráveis a determinados comportamentos, enquanto viabilizam o enfraquecimento do senso de comunidade. Tal configuração possibilita a predição e a modulação dos comportamentos, distorcendo as escolhas das pessoas no processo democrático.

Biografia do Autor

Sylvio Augusto de Mattos Cruz, Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro

Doutor em Ciência Política - IUPERJ

Mestre em Administração - UFPb

Bacharel e Administração - UFRJ

Referências

AGAMBEN, G. Por uma teoria da política instituinte. 2013. Revista Punkto, n. 29. Disponível em: http://www.revistapunkto.com/2015/05/por-uma-teoria-da-potencia-destituinte.html . Acesso em: 01 nov. 2020.

BERARDI, F. Depois do futuro. São Paulo: Ubu Editora, 2019. p. 120-121.

BOBBIO, N. Democracia e segredo, São Paulo: Editora Unesp, 2015, p. 29.

BOURDIEU, P. Meditações pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 203.

CELIX, M., R. Técnicas modernas de persuasión. Madrid: Eudema, 1992. p. 130-145.

CONSTANTIOU, I. D.; KALLINIKOS, J. New games, new rules: big data and the changing

context of strategy. Journal of Information Technology, v. 30, n. 1, 2015, p. 44-57. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1057/jit.2014.17 . Acesso em: 5 out. 2020.

DIAMOND, L. Liberation technology. Journal of Democracy, v. 21, n. 3, p. 69-83, 2010. Disponível em: https://www.journalofdemocracy.org/articles/liberation-technology/. Acesso em: 15 out. 2020.

DOMINGOS, P. The master algorithm. Nova York, Basic Books, 2015. p. 22-23.

DONEDA, D.; ALMEIDA, V., A., F. O que é a governança de algoritmos? PoliTICS, n. 24, 2016. Disponível em: https://politics.org.br/edicoes/o-que-%C3%A9-governan%C3%A7a-de-algoritmos . Acesso em: 25 out. 2020.

DOWBOR, L. O capitalismo se desloca. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020, p. 35.

EYAL, N.; HOOVER, R. Hooked: how to build habit-forming products. New York: Peguin Group, 2014. p. 8, 37.

FORMENTI, C. Cybersoviet: utopie postdemocratiche e nuovi media. Milano: Raffaello Cortina Editore, 2008. p. 245.

FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 201-202.

FOGG, B., J. Persuasive technology: using computers to change what we think and do. San Francisco: Morgan Kaufmann Publishers, 2003. p. 7-33.

HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. p. 14.

HAN, B., C. No enxame: perspectivas do digital. Petrópolis: Editora Vozes, 2019. p. 27-33, 130-131.

HAN, B., C. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte: Editora Ayiné, 2018. p. 77-78, 87-88.

KAHNEMAN, D. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. p. 30-35.

KAPTEIN, M., MARKOPOULOS, P., RUYTER, B., AARTS, E. Can you be persuaded? Individual differences in susceptibility to persuasion. In: GROSS, T. et al. (eds). Interact 2009. LNCS, v. 5726, p. 115–118. Heidelberg: Springer, 2009. p. 115–118.

KERCKHOVE, D. E Quando todo poder emanar dos dados? Uma entrevista sobre datacracia com Derrick de Kerckhove. [Entrevista concedida a] Marina Magalhães. Revista Lumina, v. 13, n. 3, p. 15-23, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.34019/1981-4070.2018.v12.21567 . Acesso em: 8 out. 2020.

LATZER, M; JUST, N.; SAURWEIN, F. Algorithmische selektion im internet: risiken und

governance automatisierter auswahlprozesse. kommunikation @ gesellschaft, v.18, p. 3-5, 2017. Disponível em: https://www.ssoar.info/ssoar/handle/document/51466. Acesso em: 20 out. 2020.

LESSIG, L. Code version 2.0. New York: Basic Books, 2006. p. 92-94.

MARX, K. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2011. p. 524.

MAYER-SCHÖNBERGER, V.; CUKIER, K. Big Data: a revolution that will transform how we live, work, and think. New York: Eamon Dolan/Houghton Mifflin Harcourt, 2013.p. 201.

MOROZOV, E. Big tech: a ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo: Ubu Editora, 2018. p. 24-25, 100-101.

NOELLE-NEUMANN, E. A espiral do silêncio: opinião pública: nosso tecido social. Florianópolis: Editora Estudos Nacionais, 2017. p. 67.

O’NEIL, C. Weapons of math destruction: how big data increases inequality and threatens Democracy. New York: Crown Publishers, 2016. p. 29-33.

PASQUALE, F. The black box society: the secret algorithms that control money and information. Harvard University Press, 2015, p. 60-61.

ROUVROY, A.; BERNS, T. Governamentalidade algorítmica e perspectivas de emancipação: o díspar como condição de individuação pela relação? In: BRUNO, F et al. (eds). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018. p. 112-114.

RUIJTEN, P., A., M.; ZHAO, T. Computers and people alike: investigating the similarity-attraction paradigm in persuasive technology. In: VRIES, P., W. et al. (eds). Persuasive technology: development and implementation of personalized technologies to change attitudes and behaviors. Gewerbestrasse: Springer, 2017. p. 165-166.

RUNCIMAN, D. Como a democracia chega ao fim. São Paulo: Todavia, 2018. p. 140-146.

SEAVER, N. Captivating algorithms: recommender systems as traps. Journal of Material Culture, v. 24(4), p. 421-436, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1177%2F1359183

. Acesso em: 17 out. 2020.

SIMON, H. A. Designing organizations for an information-rich world. Computers, Communication, and the Public Interest, v. 37, p. 40–41, 1971. Disponível em: https:

//knowen-production.s3.amazonaws.com/uploads/attachment/file/2005/DESIGNING%

BORGANIZATIONS%2Bfor%2BInformation-Rich%2Bworld%2B--%2BSImon.pdf . Acesso em: 17 out. 2020.

STARK, L. Algorithmic psychometrics and the scalable subject. Social Studies of Science, v. 48 (2), p. 204-231. Disponível em: https://doi.org/10.1177/0306312718772094 . Acesso em: 20 out. 2020.

SUNSTEIN, C. R. Republic.com 2.0. New Jersey: Princeton University Press, 2007. p. 6-7.

TAYLOR, C. A ética da autenticidade. São Paulo: É Realizações, 2011. p. 113.

VARIAN, H. R. Beyond big data. Business Economics, v. 49, n. 1, p. 27-31, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1057/be.2014.1 . Acesso em: 13 out. 2020.

ZUBOFF, S. The age of surveillance capitalism: the fight for a human future at the new frontier of power. New York: Hachette Book Group, 2019. p. 68.

ZUBOFF, S. Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação. In: BRUNO, F et al. (eds). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018. p. 42-43.

WINQUES, K. Opinião pública nas plataformas de circulação mediadas por algoritmos. In: POLIVANOV, B. et al. (eds). Fluxos em redes sociotécnicas: das micronarrativas ao Big Data. São Paulo: Intercom, 2019. p. 268-270.

Downloads

Publicado

2021-08-03

Edição

Seção

Ciências Sociais Aplicadas