TROMBOSE VENOSA CEREBRAL COMO COMPLICAÇÃO DE SORO ANTIESCORPIÔNICO: RELATO DE CASO
Abstract
O acidente escorpiônico, na maioria das vezes, acarreta quadro clínico caracterizado como leve. Entretanto, em casos moderados e graves é necessário administrar soro antiescorpiônico, o que pode causar reações adversas graves, apesar de raras. Esse artigo objetivou relatar o caso de um paciente que desenvolveu trombose venosa cerebral como complicação do soro antiescorpiônico. A pesquisa foi do tipo exploratória descritiva, o termo de consentimento livre e esclarecido foi preenchido pelo paciente e o projeto foi submetido ao CEP. O paciente foi admitido na Unidade de Pronto Atendimento 3 horas após ser picado, apresentando quadro clínico moderado, necessitando da realização da soroterapia. Durante a infusão do segundo frasco, o paciente apresentou piora do quadro e instabilidade clínica global, sendo transferido para a Unidade de Terapia Intensiva. Os exames de imagem demonstraram sinais diretos e indiretos de trombose venosa cerebral. Foi realizado tratamento anticoagulante com heparina. Após alta hospitalar foi orientado tratamento com anticoagulante oral, o qual foi mantido por 12 meses. A angiotomografia de controle se apresentou dentro dos padrões de normalidade e não foi observado a ocorrência de sinais deficitários neurológicos. O presente trabalho demonstrou a importância do monitoramento durante a soroterapia e o risco de complicações cerebrovasculares como reação adversa ao soro antiescorpiônico.References
ADIGUZEL, S.; OZKAN, O.; INCEOGLU, B. Epidemiological and clinical characteristics of scorpionism in children in Sanliurfa, Turkey. Toxicon, v. 49, n. 6, p. 875-880, 2007.
BOSMANS, F.; TYTGAT, J. Voltage-gated sodium channel modulation by scorpion α-toxins. Toxicon, v. 49, n. 2, p. 142-158, 2007.
BOUSSER, M. G.; RUSSEL, R. R. Cerebral venous thrombosis. In: Primer on cerebrovascular diseases. 1. ed. Londres: Academic Press, 1997. p. 385-389.
BOYER, L. V.; THEODOROU, M. D.; BERG, R. A.; MALLIE, J.; CHÁVEZ-MENDES, A.; GARCÍA-UBBELOHDE, W.; HARDIMAN, S.; ALAGÓN, A. Antivenom for critically ill children with neurotoxicity from scorpion stings. New England Journal of Medicine, v. 360, n. 20, p. 2090-2098, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. Brasília, DF, 1998.
BRUTTO, O. H. D.; BRUTTO, V. J. D. Scorpion Stings: Focus on Cerebrovascular Complications of Envenoming. International Journal of Stroke, v. 8, n. 4, p. E8, 2013.
CAMARGO, E. C. S. D.; BACHESCHI, L. A. Trombose venosa cerebral: como identificá-la?. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 47, n. 4, p. 278-278, 2001.
CAMPOLINA, D. Georreferenciamento e estudo clínico-epidemiológico dos acidentes escorpiônicos atendidos em Belo Horizonte, no serviço de toxicologia de Minas Gerais. 2006. 154f. Dissertação (Mestrado em Infectologia e Medicina Tropical) – Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, 2006.
DATASUS. Acidente por animais peçonhentos – notificações registradas no sistema de informação de agravos de notificação – Minas Gerais. Disponível em: <http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=02>. Acesso em set. 2020.
DE LA VEGA, R. C. R.; POSSANI, L. D. Overview of scorpion toxins specific for Na+ channels and related peptides: biodiversity, structure–function relationships and evolution. Toxicon, v. 46, n. 8, p. 831-844, 2005.
DENTALI, F. et al. Long‐term outcomes of patients with cerebral vein thrombosis: a multicenter study. Journal of Thrombosis and Haemostasis, v. 10, n. 7, p. 1297-1302, 2012.
FERRO, J. M.; CANHÃO, P.; SOUSA, D. A. D. Cerebral venous thrombosis. Presse Med, v. 45, n. 12Pt2, p. 429-450, 2016.
FERRO, J. M.; CANHÃO, P.; STAM, J.; BOUSSER, M. G.; BARINAGARREMENTERIA, F. Prognosis of cerebral vein and dural sinus thrombosis: results of the International Study on Cerebral Vein and Dural Sinus Thrombosis (ISCVT). Stroke, v. 35, n. 3, p. 664-670, 2004.
FERRO, J. M.; CORREIA, M.; PONTES, C.; BAPTISTA, M. V.; PITA, F. Cerebral vein and dural sinus thrombosis in Portugal: 1980–1998. Cerebrovascular Diseases, v. 11, n. 3, p. 177-182, 2001.
LIRA-DA-SILVA, R. M.; AMORIM, A. M. D.; BRAZIL, T. K. Envenenamento por Tityus stigmurus (Scorpiones; Buthidae) no Estado da Bahia, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 33, n. 3, p. 239-245, 2000.
PAI, N.; GHOSH, K.; SHETTY, S. Hereditary thrombophilia in cerebral venous thrombosis: a study from India. Blood Coagulation & Fibrinolysis, v. 24, n. 5, p. 540-543, 2013.
SILVIS, S. M.; DE SOUSA, D. A.; FERRO, J. M.; COUTINHO, J. M. Cerebral venous thrombosis. Nature Reviews Neurology, v. 13, n. 9, p. 555, 2017.
ZUURBIER, S. M.; COUTINHO, J. M. Cerebral venous thrombosis. In: ISLAM, M. S. (Ed). Thrombosis and Embolism: from Research to Clinical Practice. Springer, Cham, 2016. p. 183-193.