(DES)CAMINHOS DO PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL

Autores

  • Magna Terra Jordão
  • Luana Frigulha Guisso
  • Linccon Fricks Hernandes Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia

Resumo

No ano de 2000 se reuniram em Natal (RN) um total de 160 instituições representadas pelo Poder Público e Sociedade Civil, em obediência ao compromisso firmado no I Congresso Mundial Contra Exploração Sexual Comercial de Crianças, para desenvolverem o Plano Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual Infanto-Juvenil (PNEIJ). O referido documento ficou conhecido como “Carta de Natal”, um mês após sua elaboração do Plano, foi instituído por meio da Assembleia Ordinária do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). (BRASIL, 2018).

O Plano Nacional foi estruturado a partir de seis eixos estratégicos fundamentados a partir de suas diretrizes no intuito de realizar intervenções técnicas, políticas e financeiras no enfrentamento da violência sexual, sendo estes:Eixo 1- Análise da situação (diagnosticar e caracterizar o fenômeno em todo o país);Eixo 2- Mobilização e articulação (comprometer a sociedade civil, por meio de articulações nacionais e regionais, com o combate à situação); Eixo 3- defesa e responsabilização (empreender esforços na responsabilização dos agressores sexuais e na defesa da criança e do adolescente); Eixo 4- Atendimento (efetuar e garantir atendimento especializado em rede a crianças e adolescentes expostos à violência sexual e a suas famílias, realizado por profissionais especializados e capacitados) Eixo 5- Prevenção (desenvolver ações preventivas contra a violência sexual e fortalecer a autodefesa de crianças e adolescentes); Eixo 6- Protagonismo juvenil (promover a participação ativa de crianças e adolescentes na defesa de seus direitos e na execução de políticas de proteção de seus direitos).

Nesse sentido o presente trabalho tem como objetivo descrever a trajetória do Plano Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual Infanto-Juvenil no Brasil.

Metodologia

Trata-se de um artigo de revisão, tendo como elemento de análise o Plano Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual Infanto-Juvenil e legislação vigente sobre a proteção de crianças e adolescentes vitimas de violência sexual.

Resultados e Discussão

No ano de 2001, o Governo Federal Brasileiro visando potencializar as ações previstas no Plano Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual Infanto-Juvenil institui o Programa de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Comercial, que ficou nacionalmente conhecido como o Programa Sentinelas, atualmente substituído pelo CREAS. Em sequência, ainda no corrente ano fora criado o Comitê Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual[1], consoante ao PNEVSIJ, para monitorar e desenvolver ações articuladas (BRASIL, 2018).

No ano de 2001, foi realizado em Yokohama (Japão), o II Congresso Mundial Contra Exploração Comercial de Crianças. Neste evento fora feita uma avaliação das ações previstas nos Planos desenvolvidos a partir do I Congresso, repensando estratégias diante das diferentes realidades econômicas e políticas de cada país. Tendo em vista que a violência sexual contra crianças e adolescentes se trata de um fenômeno mundial (BRASIL, 2018).

O Brasil no ano de 2008 sediou o III Congresso Mundial de enfrentamento de Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, tendo como metas: analisar os novos cenários da exploração sexual na contemporaneidade; identificar avanços e lacunas no marco legal e na responsabilização; compartilhar experiências de implementação de políticas intersetoriais; ampliar parcerias com o setor privado; definir estratégias e metas possíveis de serem pactuadas em cooperação internacional. Neste evento, ainda se problematizou a necessidade de intervir diante das novas configurações de violência sexual, os crimes transnacionais e os delitos facilitados pelas tecnologias da informação e comunicação (TICs) (BRASIL, 2018). 

Torna-se relevante destacar que a deliberação do plano nacional pelo CONANDA  em um momento de grande exaltação pois comemorava-se nesta data em torno da comemoração dos dez anos do ECA, quando aproximadamente duas mil pessoas se reuniram em Brasília para o Encontro Nacional de Entidades, estavam reunidas cerca de duas mil pessoas para o Encontro Nacional de Entidades, o possibilitou que o texto do plano fosse elaborado em um curto espaço de tempo. Neste sentido, houve a participação de várias entidades e atores sociais para além dos órgãos do Executivo, Legislativo e Judiciário das três esferas da federação (BRASIL, 2015).

No ano de 2010 o Governo Federal iniciou a segunda versão do PNEVSIJ,  com isso visando a promoção de ações intersetoriais, foi instituído o Plano Decenal de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes[2], reeditado pelo no contexto do CONANDA no ano de 2013 com vigência a 2020 com vistas a guardar sintonia com o Plano Decenal, o mesmo, o Plano Nacional configura-se como um importante dispositivo para análise das políticas de enfrentamento e prevenção a violência sexual contra crianças e adolescentes para sociedade brasileira (BRASIL, 2018).

Nesse sentido, o Projeto de Monitoramento dos Planos Estaduais de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes: Desafios e Conquistas, em conjunto com o Comitê Nacional de Enfrentamento e também com a Rede ECPAT Brasil (Acabe com a prostituição infantil, a pornografia infantil e o tráfico de crianças para propósitos sexuais), desenvolver “seminários regionais e nacionais, colóquios com especialistas, para aprofundamento das chamadas “novas formas de violência sexual”, reuniões institucionais para formatação conjunta de ações que demandam execução transversal” (BRASIL, 2018, p. 15).

O Comitê Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual em ação conjunta com o Cento de Defesa de Direitos da Criança e do Adolescente do Rio de Janeiro (CEDECA-RJ), também com o apoio da Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), através da mediação do pacto SICONV n° 792207/2013 – SDH/PR em 2015/2016, com verbas advindas do Fundo Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (FIA) implementaram projeto Disseminação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Neste contexto, visando o mapeamento dos territórios e as situações locais, existentes, bem como encontrar as ferramentas corretas para o enfrentamento à violência sexual, abuso e exploração de crianças e adolescentes em todos os Estados da Federação e no Distrito Federal, para isto foi realizada uma oficina (BRASIL, 2018)

A principal finalidade destas oficinas foi promover capacitação, e averiguar como o PNEVSIJ tem sido desenvolvido, e quais estados possuem Comitês estaduais de enfrentamento a violência sexual contra crianças e adolescentes. Com base no Relatório Final do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes elaborado pelo CEDEDECA-RJ (2018), foi elaborado um quadro para ilustrar número de participantes de cada oficina, dia mês e ano, e os estados que possuem comitês Disseminação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. 

De acordo com o quadro os dados do relatório elaborado pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente em 2018 a partir do Projeto de Disseminação do Plano Nacional do Enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes pode-se observar que 12 estados brasileiros não possuem comitês de enfrentamento a violência e exploração sexual sendo estes Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Tocantins, Sergipe e Ceará. Está realidade aponta para a fragilidade das políticas públicas e implementação de serviços no atendimento.

Embora Sergipe esteja em primeiro lugar como o estado de maior representatividade nas oficinas com 110 de Maior representatividade foi o Piauí pessoas, porém o mesmo encontra-se na lista dos estados sem Comitês de Enfrentamento a Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes. Em segundo encontra-se o estado do Mato Grosso com 85 representantes, o mesmo possui Comitê estadual. Em terceiro lugar o estado da Bahia com 84 pessoas, sendo que o mesmo também não possuí comitê. Em quarto lugar o estado com 78 representantes, constatou-se a existência do Comitê Estadual. Em quinto lugar com 75 representantes ficaram os estados do Paraná, Paraíba, Maranhão, ambos possuem comitês. O estado com menor representatividade foi o Acre com 30 pessoas, seguido dos estados do Amapá e Pará com 35 representantes. Contudo ambos possuem comitês estaduais de enfrentamento (BRASIL, 2018).

Conforme os dados fornecidos pelo relatório o estado de Goiás foi o que apresentou o maior número de denúncias realizadas por meio da Central do disque 100 totalizando 4.480 denúncias. Dentro desta soma cerca de 85% dos casos tratam-se de abusos sexuais e 23% de exploração sexual infantil. Na maioria dos Estados brasileiros o maior percentual de violência sexual contra crianças e adolescentes classifica-se como abuso sexual. O estado de Minas Gerais aparece no relatório com maior número de pontos de exploração sexual de crianças e adolescentes.  Considerando que a exploração sexual como uma das piores formas de trabalho infantil (BRASIL, 2018).

No que se refere ao perfil da vítima o relatório apresenta prevalência do sexo feminino, as faixas etárias de maior incidência descritas são da idade de 0 a 15 anos.  Os desafios para obtenção de dados mais precisos foram apontados em todas as oficinas, os fatores apontados são o preenchimento incorreto das fichas de notificação (BRASIL, 2018). 

O referido documento ainda constatou pouca participação da sociedade civil, e das instâncias governamentais, os Centros de Referência Especializados em Assistência social (CREAS) teve maior participação tanto nos estados que possuem comitês e fóruns de enfrentamento quanto os que não possuem. Por se tratar de um equipamento da assistência social quando ocorre violação de direitos. Entretanto se faz necessário começar a se pensar em ações mais audaciosas na prevenção da violência sexual cometida contra crianças e adolescentes.

           

Conclusões
Milhares de crianças e adolescentes no mundo continuam sendo vítimas de violência sexual. A exploração sexual pode ter apresentado alguns índices de diminuição em virtude das campanhas de conscientização por meio da mídia, que trazem essa realidade para o olhar da sociedade que pode efetuar denúncias contra estas atrocidades. Porém o abuso ele possui uma questão um pouca mais complexa, pois tende acontecer no anonimato, no oculto, dentro dos lares, nas igrejas, escolas, em instituições e por pessoas que deveriam assegurar os direitos proteção e dignidade dessas crianças e adolescentes que vivenciam essas experiências. 

Nesse sentido o plano precisa ser revisado e melhor implementado a ausência de novos estudos e dados tem dificultado a execução de políticas públicas e sociais para a proteção de crianças e adolescente no Brasil vitimas de violência sexual.


 

 

Referências

BRASIL. Projeto Disseminação do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Rio de Janeiro, 10 de março de 2018.

BRASIL. Relatório de monitoramento do plano nacional de enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes. 2013-2018. p. 91. 2018.

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Publicado

2021-07-07

Edição

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Artigos